sábado, 12 de abril de 2014

Ser e Sentir.

Eu não sei dizer mais. É como se meus pensamentos tivessem de ser traduzidos, e a tradução me cansasse demais, como se qualquer coisa que eu fosse pensar não fosse significar nada e nada que eu poderia pensar pudesse me fazer sentir algo diferente. As viagens metafísicas tomaram conta, e não há muita linguagem nelas, embora elas digam muito. O pensar foi substituído pelo sentir. Infinitamente mais significativo e expressivo que o pensar, infinitamente mais indecifrável. Intraduzível. E todas as vezes que tento passar essas experiências a única coisa que sai é poesia. Tornei-me poeta por obrigação. E agora acredito que todos eles foram assim.
É como ser apresentado ao outro mundo, onde ficam o paraíso e o inferno, e ao mesmo tempo estamos nele, o tempo todo. Onde as leis da física se entrelaçam e se confundem e dois corpos ocupam o mesmo espaço, as coisas caem para cima e flutuam para baixo. E tudo isso é quase visível, quase palpável. Quase irreal.
E seria irreal se a experiência não fosse real. Mas ela é real. Está contida em tudo. E tudo se torna o universo todo, o tempo dobra-se em tantas formas estranhas que antes e depois não existem mais, apenas o momento, o agora. E estar nesse lugar, nesse estado, nesse momento e tentar manter uma identidade é como tentar segurar fumaça, parece possível mas ao fecharmos as mãos ela desaparece. É como tentar manter peças que não se encaixam mais. Mas mesmo assim é profundamente individual, como se nunca tivesse estado tão em mim mesmo como agora. Tão eu, sem um eu. Quem eu sou? Não há mais um "quem", o "eu" está em toda a parte, todos os lugares e todas as pessoas... E o sou é tudo e a única coisa que realmente existe. E deveria dizer "adeus" e partir, mas é irrelevante pois também estarei nesse lugar que deixarei. E continuarei sendo aquilo que deixei de ser.

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