sábado, 11 de junho de 2016

Plutoniano

Emerge da tumba de teu ser
Dai-me as vestes, a pele a perecer
Sob o tapete ou dentro do armário
A ti mesmo seu adversário

Engole o sentimento e logo se engana
Evita a ti mesmo a verdade te esgana
Desejo reprimido ou pensamento que evito
Na curva da vida cruza contigo

Em ti vai surgir por mais que encubra
Logo sentira a ferida que abre
E se a ti mesmo não encara com humildade
Tu mesmo se pegarás sem nenhuma piedade

Coração esbranquiçado

Na sala branca de novo, não há janelas nem portas, o teto se confunde com as paredes e com o chão devido a claridade. Talvez esteja enlouquecendo por dentro conforme as vibrações, talvez seja o modo que decidi colorir minha vida ou apenas algumas entre tantas ilusões de ópticas. Talvez tenha sido sempre assim e só assim e todo o resto foi pura ilusão. Daqui não há para onde ir ou o que fazer. Espalhado, só há eu. Infinitamente eu penso no quanto falhei ao tentar enxergar o verdadeiro sentido em cada canto, em cada pranto, em cada olhar caótico que quis desvendar, em tais elementos minimalistas e tentar achar alguma ligação plausível. Certo de que nada é certo, e que nada significa nada ainda acho significado. Mas ainda vazio para todos os lados só me resta para dentro. O que eu significo? Sou trocadilhos, sou essência, sou vestígios de pó flutuantes, sou letras ilegíveis, sou obra de arte abstrata que para uma melhor visualização, tu vai girando a cabeça até achar o ângulo que mais se encaixa e ainda não consegue compreender, sou brisa leve e no mesmo instante vendaval, sou o que explodiu e se espalhou, pedaços de mim tentando se juntar para se fazer inteiro. Inteiro. Sou versos, sou a fonte, sou um resto de estrela, sou textos incompletos, sou aquele dando um passo para trás para ver o quadro por completo, vindo de meu coração me rasgando por dentro tentando assumir o mesmo espaço, incômodo, nada se encaixa, desisto de compreender. Sou onda suave e no mesmo instante tempestade. Na verdade, eu sou muitos, múltiplos, sem identificação dentre tantos universos, pois ainda estou aprendendo como é voar sozinho e algumas vezes não voltar para o ninho. É árduo, é perigoso e inúmeras vezes tenebroso. Ao mesmo tempo sou um, único, identificado com apenas um aspecto de tudo, pois estou aprendendo a voar junto e ser o meu próprio ninho. É suave, é seguro e inúmeras vezes estonteante. Maravilhado, estou cheio de graça. Assombrado, estou em desespero. A parede em meu coração não quebra, não cede por mais que eu bata, não atravesso por mais que eu force, então encaro a realidade a minha volta, a tal e atuante sala branca em meu cerne. Estou em desnível, prestes a uma explosão, torço para que seja de cores e caso não for, aceito seja branca ou negra.