quinta-feira, 7 de junho de 2012

Não Há Oceano Aqui

Acordei, levantei da cama, pus meu chinelo e sai. Era começo da manhã, por volta das seis da manhã. Na rua poucas pessoas passam, a sua maioria de bocas abertas bocejando com o olhar vago para frente indo trabalhar. No bolso da camisa de meu pijama encontro uma ponta e a acendo.
Nada começa a fazer sentido, mas já não fazia antes. A névoa cobre as ruas, limitando a nossa visão e dando à realidade a textura de um algodão, como fluoxetina faz. A estranha escuridão da manhã me faz pensar estar nublado, mas o céu se encontra muito além de minha visão. Então bate.
Passo ao lado de um pequeno parque cujas luzes estão acesas. Além dele a névoa fica densa demais para enxergar qualquer coisa. Apenas ouço carros passando e passos de pessoas, atrás de mim, mas agora a névoa que podia ou não ser de meu beck estava densa demais para vê-los. Um pequeno cavalo de madeira sobre uma mola começa a balançar, assim como os balanços e as árvores.
"Você sabia que este parque está sobre um cemitério indígena?" Soa uma voz de criança, olho em volta e não a vejo. "Sob esses brinquedos há almas de milhares de índios cheio de ódio do homem branco. Prontos para levarem suas almas, acabar com sua cultura que acaba com o Grande Espírito" Continuo andando. "E você vai morrer junto com eles!" Agora percebo que a voz começa a diminuir. "Você escuta uma voz falando para você sobre um cemitério indígena num parque em volta de névoa e nem para?" Continuo fazendo o que estava fazendo. "Ei! Volte aqui!" Não o faço. Ela se silencia.
Sob o arco há o nome do parque. No centro há um lago, no centro do lago há uma pequena ilha com uma árvore. Nos galhos das árvores pássaros brancos descansam imóveis. As folhas da árvore estão brancas de tanta merda de pássaro, mas a imagem continua sendo muito cativante.
Começa a queimar meu dedo, trago pela última vez, passo o pé e passo pelo arco. Caminho adentro do lago onde todos os dias pequenas alma e mentes vem correr, passear, levar o cachorro para passear, sentar e ficar olhando, que é o que decidi fazer no momento. Me sento num banco olhando para a árvore branca no centro do lago.
Espero sentir a presença do grande espírito mas ela não vem. Há algo errado. Por um segundo penso que isso pode significar que minha alma não está dentro de meu corpo, e sim já era, e que meu corpo está apenas caminhando sem ela por ai, a procura da própria morte. Mas logo uma possibilidade maior me vem à mente. Talvez ele não estivesse lá.
A ultima vez em que batemos um papo eu estava com os pés mergulhados no oceano. Podia sentir a sua presença de milhões de anos ali. Sentia, sob meus pés, em minha testa que aquele pedaço de terra, na verdade areia, um dia estivera grudado na África. Me via pequeno e feliz por fazer parte de algo tão grande. Maior do que a mente de Deus pode imaginar.  Calmo, centrado, com suas ondas acariciando meus pés eu entendi a sua mensagem. E precisava dela agora. Mas vim ao lugar errado.
Precisava de uma grandeza milenar da Terra e estou de frente para uma poça d'água artificial com uma árvore cagada no centro. Lembro que sem café pela manhã fico sonolento e irritado então volto para casa preparar.


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