quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Já foi feito

Nada novo.

Estamos vazando pelas bordas da cultura.

Por mais estranha que seja a sua vida já fizeram um filme sobre isso. A coisa mais bizarra que aconteceu na sua vida é apenas uma imitação de uma cena de um livro, você sempre acaba se encontrando no teatro.

É como se sua vida tivesse sido vivida antes de você viver.

Você encontra um meio irmão todo o final de semana, ou sua mãe está com câncer de cólon. O sofrimento e a alegria disso soa falso se você acha que já aconteceu antes. Nada é novo de verdade.

A garota com quem você perdeu a virgindade se torna prostituta, seu vizinho mata a mulher com doze facadas. Você já viu isso em algum lugar.

Tudo o que acontece já aconteceu antes, e se você reparar bem pode até dizer quando vai acontecer de novo.

E de novo e de novo.

Um cara do centro de umbanda comeu um copo de vidro, a sua tia já idosa e solteira teve uma visão divina e foi para um convento. Todas as coisas que podemos fazer.

Nosso repertório comportamental já está ficando obsoleto. Estamos ficando obsoletos para o mundo que nós mesmos estamos criando.

Se você está bebendo uma latinha de refrigerante para se refrescar no calor andando pela cidade você acaba se sentindo e um comercial. Você está escovando os dentes e por algum motivo sabe onze dos doze problemas bucais que aquela pasta deveria estar resolvendo.

Até as coisas que você extrai do fundo da sua imaginação. Pequenos homenzinhos vestindo camisas brancas, calças verdes e suspensórios, saindo dos bueiros da cidade, tomando a rua e cantando. Você caído no chão suado depois de correr alguns quilômetros quando vem aquela gostosa correndo em câmera lenta com aquela água gelada que você tanto precisa. É a versão moderna de anjo da guarda.

Lógico que trocarão a água por algo mais colorido e doce.

E lógico que essas coisas não vão acontecer. Mas depois de tanta televisão acaba parecendo bem possível acontecer, por que não tentar?

Você senta com a sua família na sala no que deveria ser apenas um jantar, mas acaba sendo uma das conversas mais hilárias que você teve na vida. E quando está lá, sorrindo, com todas as pessoas que você ama, por algum motivo acaba pensando no seu crédito bancário. Ou então você se sente pressionado pela sua própria vida, seu patrão e sua mulher. E do nada surge uma vontade tremenda de sair de carro pela cidade. No meio da sua voltinha para relaxar, acaba percebendo que seu carro não é o suficiente. Ele não te dá a liberdade que você deseja. Só aquele novo carro que sai das águas e desbrava a mata na televisão parece o suficiente.

Tente fazer um churrasco sem cerveja.

O que podemos fazer já foi feito.

Você só está seguindo os passos de outras pessoas.

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