quarta-feira, 28 de março de 2012

Vazio e livre

Acordo, enrolo na cama uns minutos, mas preciso estudar. Preciso enfiar aqueles textos em minha cabeça. Preciso lavar a minha roupa, e talvez providenciar comida. Preciso adiantar meus estudos.
Mal abro os olhos e já estou cansado.
Sei que durante o dia terei de encarar pessoas que não estão gostando de fazer o que estão fazendo. Essas pessoas me olharão como se eu não estivesse gostando de estar com elas. E isso me cansa.
Tentando relaxar do primeiro susto do dia, acordar, meu tio lá fora começa a gritar:
- Maria Rosinha! Pílulas! Cigarro! Café!
Isso dura vários minutos. Minha cabeça já está explodindo e eu mal sai do quarto. E nem estou de ressaca.
Hoje é quarta-feira.

Acordei faz dez minutos e já quero voltar para a cama.
Vou à cozinha e do meio da bagunça consigo extrair os equipamentos necessários para se fazer um café da manhã. A geladeira ainda fede de algo estragado lá dentro. Meu estômago embrulha, desisto de comer.
Passo pela televisão ligada onde uma mulher conta suas mentiras sobre o mundo.

De volta ao quarto resolvo ouvir música para relaxar. Mas meu computador temperamental resolve não ligar.
Meus punhos começam a se fechar e minhas sobrancelhas arqueiam para dentro. Engulo seco.

Pego um texto qualquer e começo a lê-lo. Lá fora meu tio ainda grita, passando pela porta do quarto minha mãe também grita ao telefone. Meu estômago dói.
Tento por diversos minutos enfiar o texto na cabeça mas não consigo me focar.
São dez da manhã e minha cabeça já está exausta.

A casa está uma bagunça, e não posso tocar em nada. Já o fiz e nisso de alguma forma estraguei tudo.
Pelo menos foi o que me disseram, sem dizer o que estraguei.
Penso em fazer algumas outras coisas que preciso, como lavar minha roupa, arrumar meu quarto. Mas para começar a fazer isso, tenho de terminar algo que minha mãe deixou pela metade. São dez da manhã e quero arremessar a minha cabeça para longe de meu corpo.

Me sinto cansado. Muito cansado.

Me deito novamente para relaxar, respirar fundo, tentar meditar.
A porta bate, meu tio grita, crianças lá fora gritam.

Não consigo me concentrar e não consigo relaxar. Não consigo fazer o que eu tenho de fazer, muito menos o que eu quero fazer. Estou sentado em uma poltrona, mas em minha cabeça estou matando o mundo todo com meus próprios punhos, surrando até o sangue de suas faces se misturar com o sangue que escorre de meu punho.

Na faculdade à noite, quando penso que terei um pouco de paz e alguma forma de produtividade, apenas ouço as pessoas à minha volta reclamando. Um misto de muitas vozes e palavras desconexas atingem meu ouvido, e no meio delas escuto meu nome. Não atendo.

Não estou aproveitando nada de nada.
Mas eu tento. Como eu tento.

Penso que o problema deve ser eu, afinal, sou eu quem está sofrendo. Olho a minha volta e penso como eu poderia melhorar.
A resposta aparece como um passe de mágica lógica. "Relaxe, respire fundo, se concentre e faça as suas merdas!"
Mas lembro que não consigo relaxar.

E logo penso, o problema não sou eu.
Estou disposto a fazer as coisas. Estou disposto à enfrentar o dia com um sorriso na cara. Não um sorriso falso de balconista, mas aquele de verdade de pessoas felizes por estarem vivas. quero ser algo bom nos dias daqueles à minha volta, e geralmente consigo com sucesso.
Estou mergulhado no inferno e cercado de babacas. Onde não consigo ser o que quero, ser o que posso ser. E nos últimos dias, nem mesmo ser o que era.
Tudo está cinza e sem sabor.

São dez e meia da manhã, e eu já quero morrer. Cansado demais para conseguir achar soluções. Me sinto sozinho e perdido.

Não me resta muito a fazer senão agarrar minhas têmporas e gritar. Gritar alto. Talvez chorar um pouco.
Então cá estou. Me sentindo sozinho, frustrado, com raiva. Em meu peito uma melancolia fria começa a tomar conta de mim. Não há forças para lutar contra então me rendo.

Me derramo no chão em desistência e deixo ela fazer o que quiser comigo. Sem resistência, nos tornamos um.
Deixou-a me quebrar, dilacerar minha alma, dominar a minha mente.
E me sinto livre.
Vazio e livre.

Até levantar e ter de viver tudo de novo.


Um comentário:

  1. Oi Kauezinho..

    Foda, eu meio que já passei por isso, não exatamente, mas semelhante. Vc está frustrado e dá pra entender pelo que vc descreveu. Vc precisa mudar seus ares.. não existe possibilidade de arranjar um estágio ou voltar a duas aulas? A gente precisa se dar um choque pra conseguir sair dessa letargia e agonia. E só nós mesmos podemos fazer isso. Ás vezes tudo que a gente precisa é de uma mudança. Não tem ideia do quanto ajuda!

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